A metamorfose do PT – Xico Graziano

Bolsonaro vence nas capitais do Nordeste, Haddad lidera no interior nordestino. O fato remete, com sinal trocado, à época da ditadura: a direita ganhava nos grotões, perdia nos grandes centros urbanos. Hoje inverteu a bússola da política.

Especialmente nas eleições majoritárias de 1974 e 1978, o regime militar viu a oposição crescer na opinião pública. Vivíamos, então, o bipartidarismo: pelo espectro ideológico da direita, defendendo o governo, operava a ARENA; na oposição de esquerda, pregando a volta da democracia, estava o MDB.

Eu comecei a fazer política, dentro do movimento estudantil, nesses tempos de chumbo, década de 1970. Aprendi que, quanto mais evoluída e bem informada a sociedade, mais ela tendia ao progressismo. Adotava o discurso da mudança.

Por outro lado, quanto mais atrasada, e isolada estava, a sociedade defendia a situação. Era, por conseguinte, no interior empobrecido do país que a ARENA validava seu discurso, em defesa do poder constituído. A direita, assim nós percebíamos, manipulava os pobres incautos.

Hoje, curiosamente, funciona ao contrário. O antigo território da direita, Nordeste principalmente, garante a força esquerdista de Lula/Haddad; já a modernidade brasileira, majoritária no Sul/Sudeste, coloca o direitista Bolsonaro na liderança.

A esquerda ficou retrógrada, ou a direita se avermelhou? Vem cá, o PT é de esquerda mesmo, ou virou uma força conservadora na sociedade?

Responder a esse enigma é essencial para entender a dinâmica dessas eleições de 2018. Eu afirmo, com convicção: a campanha de Haddad representa o retrovisor de nossa sociedade. O PT se coloca como esquerda, mas virou um partido obsoleto.

Apresento 4 argumentos em favor de minha opinião:

  • O PT defende a carcomida estrutura do Estado brasileiro, banca velhas e desnecessárias empresas estatais, se alia ao pior corporativismo, quer manter privilégios salariais. Apoia o intervencionismo público e condena o mercado capitalista. O PT não entende de economia globalizada;
  • O PT professa uma ideologia antiga, típica da sociedade de classes, polarizada entre patrões e operários, ricos e pobres. Suas ideias marxistas são ultrapassadas, não se coadunam com a economia pós-industrial, da era tecnológica e digital, da sociedade complexa e empreendedora. O PT não gosta da meritocracia, detesta ver gente subir na vida pelo esforço próprio;
  • O ideário do PT se coloca contra o avanço científico na engenharia genética, combate o moderno agronegócio e defende o campesinato rural. Valoriza a falsa ciência, das terapias alternativas e exotéricas, em detrimento da medicina de ponta. O PT namora com o obscurantismo;
  • O PT não promove a emancipação dos miseráveis, preferindo mantê-los aprisionados pelo favorecimento político. Antes se trocava votos por cestas básicas e água; agora se compra a consciência com bolsa-família. No campo, o MST faz da reforma agrária um antro de poder, às custas da dependência dos assentados.

O PT sofreu uma metamorfose em sua trajetória. Nasceu pobre, ficou rico. Vendeu uma ilusão, galgou o poder, nele se locupletou, tornou-se anacrônico. A prova está dada nos resultados eleitorais.
Vota em Haddad quem votava na ARENA. Vota no PT quem defende privilégios.

Falando em regalia, destaco certa contradição. Surgido no seio dos operários, o PT defende causas culturais próprias da fina flor pós-modernista. Quando seus militantes desfilam nus em frente às igrejas, ofendem as pessoas simples. Se isso é esquerda, o PT é elite.

As ideologias antigas, que amparavam as receitas socialistas ou capitalistas, andam, na verdade, se esfarelando, se mesclando, às vezes se invertendo. Ainda mais após a Lava Jato, moralidade tomou o lugar da ideologia. Esquerda virou sinônimo de corrupção.

Bolsonaro terá uma vitória consagradora neste próximo domingo (28.out.2018). Para entender seu sucesso, fica a dica: hoje em dia, mais importa ser “direito” que “direita”.

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Alan Ribeiro
Alan Ribeiro

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