
Em interrogatório, ex-presidente da Agetop diz que dinheiro foi utilizado em “campanhas de candidatos aliados” e nega recurso não contabilizado para Marconi.
Interrogado por duas vezes pela Polícia Federal na Operação Cash Delivery, o ex-presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop) Jayme Rincón (PSDB), preso desde sexta-feira, admitiu repasse de caixa 2 em seu apartamento em São Paulo por parte da Odebrecht, conforme apontam as investigações. Ele diz, no entanto, que o dinheiro foi para “campanha de candidatos aliados”, sem revelar quais, e que o montante destinado à campanha do ex-governador Marconi Perillo (PSDB) “foi legalizado”.
Jayme diz não saber quantas vezes houve entrega de dinheiro em seu apartamento e o valor total. A apuração da PF e do MPF identificou pelo menos 11 no local. O ex-presidente da Agetop, que era coordenador da campanha do governador José Eliton (PSDB) em Goiânia até a deflagração da operação, afirma ainda que “parte dos valores (recebidos da Odebrecht) era oficializada com a ajuda de empresas parceiras”. Segundo o Ministério Público Federal, isso configura crime de lavagem de dinheiro.
“Confirma ter havido entrega de recursos por parte de prepostos do grupo Odebrecht aos policiais militares Sérgio (Sergio Rodrigues de Souza Vaz, policial militar que era motorista de Jayme e morreu em janeiro de 2016) e Moura (Márcio Garcia Moura, policial militar e atual motorista) no apartamento de propriedade do interrogado em São Paulo. Não sabe dizer ao certo o número de vezes. O apartamento era utilizado tendo em vista o acesso que Sérgio detinha ao mesmo”, diz o termo do interrogatório ao qual O POPULAR teve acesso.
O primeiro interrogatório foi na sexta-feira, dia das cinco prisões e das buscas feitas pela operação. Na segunda-feira, Jayme foi ouvido novamente, mas, desta vez, por recomendação dos advogados, permaneceu em silêncio. Ele se recusou a responder sobre os R$ 940 mil encontrados na casa de seu motorista. Márcio também se manteve em silêncio no interrogatório.
Na primeira oitiva, Jayme ressaltou que o filho Rodrigo Godoy Rincón, também preso sexta-feira e que obteve habeas corpus ontem, “não tinha a menor participação e sequer sabia do que estava acontecendo” no apartamento de São Paulo, em que ele morava. Sobre o veículo de R$ 170 mil que pertence a Rodrigo, Jayme afirmou que nem se lembrava que estava em nome do filho e que ele é usado por sua mulher.
Marconi Perillo
Após o teor do interrogatório de Jayme Rincón vir à tona, a defesa do ex-governador e candidato ao Senado, Marconi Perillo (PSDB), emitiu uma nota.
Confira na íntegra:
A defesa do ex-governador Marconi vem reafirmar que ele está e sempre esteve à disposição para esclarecer tudo relacionado à investigação e, a pedido da defesa, a delegada responsável marcou depoimento para logo após a eleição. O ex-governador não irá depor antes das eleições, pois entendemos que a deflagração da operação na reta final da campanha eleitoral teve claro sentido eleitoreiro e o objetivo de provocar ataques e injusta perseguição política a Marconi.
Ressalta a Defesa que os fatos objetos da delação da Odebrecht – delação já conhecida há mais de 1 ano – dizem respeito a pretensas doações para as campanhas de 2010 e 2014, ou seja, fatos antigos e em nada relacionados à campanha de 2018.
Além disso, não existe qualquer hipótese de propina ou corrupção na investigação, apenas doações para campanhas. E a defesa está muito segura a respeito e fará o necessário enfrentamento técnico do caso. A questão deve ser tratada e resolvida juridicamente na Justiça Eleitoral. O uso de fatos alegadamente ocorridos há 8 anos e 4 anos em plena campanha eleitoral revela o verdadeiro intuito da Operação, que provocou uma ilegal e indevida perseguição política ao ex-governador que, como não poderia deixar de ser, está à disposição das autoridades e, como cidadão, é o maior interessado em esclarecer os fatos.
A defesa alerta, há muito tempo, para os riscos de uma espetacularização do processo penal e da criminalização da política, que ataca e ofende pessoas de bem e comprometidas com o país.
A democracia exige serenidade e responsabilidade. Ninguém está acima da lei, mas todo cidadão, político ou não, tem o direito de ver respeitada a Constituição da República, que garante a qualquer um o devido processo legal, a presunção de inocência, a ampla defesa e um julgamento justo. KAKAY
Fonte: O Popular – Fabiana Pulcineli