Operação prendeu o coordenador de campanha do atual governador de Goiás José Eliton, candidato à reeleição. Investigação apura pagamentos indevidos a agentes públicos de Goiás, relatada na delação da Odebrecht.
A Polícia Federal deflagrou na manhã desta sexta-feira (28) uma operação para cumprir mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Marconi Perillo (PSDB), ex-governador de Goiás e candidato ao Senado.
Como parte da operação, chamada de Cash Delivery, a PF prendeu Jayme Rincon, coordenador de campanha do atual governador de Goiás e candidato à reeleição, José Elinton (PSDB).
Também foi preso o motorista de Rincon, o policial militar Márcio Garcia de Moura. Com ele a polícia encontrou maços de dinheiro vivo.
Em nota, o advogado de Perillo, Antônio Carlos de Almeida Castro, disse que a defesa repudia a operação e que não há “qualquer fiapo de indício” contra o ex-governador (veja a nota na íntegra ao final desta reportagem).
O G1 tentou contato, por telefone e email, às 7h20 desta sexta-feira (28), com a assessoria de imprensa do governador José Eliton e com membros da campanha dele à reeleição, mas as ligações e o e-mail não foram retornados até a última atualização desta reportagem.
Ao todo a operação tem 14 mandados de busca e apreensão e 5 de prisão temporária. Os mandados foram autorizados pela 11ª Vara de Justiça Federal em Goiás nas cidades de Aparecida de Goiânia, Pirenópolis e Aruanã, em Goiás, e em Campinas e São Paulo.
A Cash Delivery apura repasses indevidos para agentes públicos em Goiás, com base nas delações premiadas de executivos da Odebrecht. Os valores investigados são de R$ 12 milhões.
Candidato ao Senado, Perillo aparecia com 29% das intenções de voto em pesquisa Ibope do dia 21 de setembro. O ex-governador de Goiás se tornou réu no início de setembro por corrupção passiva.
No pedido para autorização dos mandados, a PF afirmou que não solicitou a prisão de Perillo por causa da lei eleitoral. A legislação determina que candidatos não podem ser presos 15 dias antes do pleito, a não ser em flagrante. Esse prazo começou a contar no dia 22 de setembro.
Além de Perillo, Rincon e Moura, são alvos da operação: Rodrigo Godoi Rincon (filho de Jayme Rincon); o ex-policial militar e advogado Pablo Rogério de Oliveira; e o empresário Carlos Alberto Pacheco Júnior.
Segundo a PF, eles poderão responder pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
O G1 procurou, às 8h33, a Agência Goiânia de Transportes e Obras (Agetop), que era presidida por Jayme Rincón, mas não obteve respostas até o momento.
O G1 também entrou em contato com a assessoria de imprensa da Polícia Militar, que disse não ter sido informada sobre a operação.
Investigações
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), Perillo, quando ainda era senador e depois como governador, pediu e recebeu propina para favorecer a Odebrecht em contratos e obras em Goiás. Os valores, segundo as investigações, foram de R$ 2 milhões em 2010 e R$ 10 milhões em 2014.
O MPF informou ainda que a operação desta sexta tem o objetivo de rastrear o destino da propina.
De acordo com as investigações, a propina era entregue em dinheiro em espécie e transportada em malas e mochilas. O MPF apontou que houve ao menos 21 entregas do dinheiro irregular em 2014 feitas a mando da Odebrecht para favorecer Perillo.
Também segundo o MPF, os indícios colhidos nas apurações mostram que Perillo atuava como chefe do grupo e Rincon era braço direito dele.
Operações durante a campanha eleitoral
Desde o início de setembro, candidatos nas eleições foram alvo de operações policiais e ações do Ministério Público. O corregedor nacional do MP determinou a apuração das condutas de promotores que apresentaram ações contra os candidatos à Presidência Fernando Haddad (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB).
No dia 4 de setembro, Haddad foi denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro em suposto pagamento de dívida da campanha de 2012. Na ocasião, a assessoria de Haddad disse estar surpreso com a denúncia em período eleitoral, afirmando que o delator do caso teve delações negadas pela Justiça.
Alckmin se tornou alvo de uma ação do Ministério Público por improbidade administrativa por caixa dois. O MP acusa Alckmin de ter recebido R$ 7,8 milhões da Odebrecht na campanha de 2014. Questionado, o candidato diz que não havia fato novo, mas apenas uma conclusão equivocada e um comportamento inusual do promotor, que sugere algo que não existe.
No dia 11 de setembro, o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) foi preso em uma operação que investiga o programa do governo estadual Patrulha do Campo, que faz a manutenção de estradas do Paraná. Richa foi solto quatro dias depois, quando conseguiu um habeas corpus concedido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Reinaldo Azambuja (PSDB), governador de Mato Grosso do Sul, foi alvo de operação da PF no dia 12 de setembro. A PF cumpriu mandados de busca e apreensão na casa de Azambuja, que é candidato à reeleição. A operação investiga o suposto pagamento de propina a integrantes do governo de MS em troca de créditos tributários a empresas.
Veja nota da defesa de Marconi Perillo:
A Defesa do Marconi Perillo vem a público explicitar o mais veemente repúdio à ação deflagrada hoje em Goiás. O ex Governador foi citado na delação da Odebrecht por fatos ocorridos em 2010 e 2014. É evidente que os fatos devem ser apurados e a Defesa não tem nenhuma preocupação com a investigação. A palavra do delator é isolada e não há, sequer en passant, qualquer fiapo de indício contra o Marconi Perillo. A busca e apreensão na residência do ex Governador ha 9 dias da eleição assume um caráter claramente eleitoreiro e demonstra um abuso por parte do Ministério Publico e do Poder Judiciário. É, sem dúvida, uma clara interferência, indevida e perigosa, contra a a estabilidade democrática. Os fatos citados pelo delator, sem provas, se referem a questões antigas. A falta de contemporaneidade, já decidiu varias vezes o Supremo Tribunal,é impeditivo de prisões e qualquer outra medida constritiva contra qualquer cidadão. Importante esclarecer que NÃO é verdade que o ex Governador teve mandado de prisão decretado, mas teve busca e apreensão e esta medida, neste momento ,já é uma grave agressão. Uma violência inexplicável ao estado democrático de direito.