Kajuru e Vanderlan a um passo de fazer História

A verdadeira virada não está na eleição para governador, mas na disputa pelas 2 vagas ao Senado.
José Luiz Bittencourt

Jorge Kajuru e Vanderlan estão numa boa: um quadro mostrando a evolução dos índices dos quatro principais candidatos ao Senado – Marconi Perillo, Jorge Kajuru, Lúcia Vânia e Vanderlan Cardoso – nas pesquisas do instituto Grupom publicadas no Diário da Manhã, entre maio e setembro, revela que existe, sim, uma tendência contínua de alta de Kajuru e Vanderlan, uma estagnação de Marconi e uma forte oscilação para baixo de Lúcia Vânia.
Isso significa simplesmente que a grande “virada” anunciada pela campanha de Zé Eliton e de Marconi não passa de ficção na eleição para governador, está se transformando em realidade na disputa pelas duas vagas ao Senado.
Veja os números do Grupom: em maio, na 1º pesquisa, Marconi estava com 27,1%. No último levantamento, na semana passada, o ex-governador aparece com 29,7%, mesmo número, ou seja, sem variação se considerada a margem de erro de 3 a 3,5 pontos para mais ou para menos. Quer dizer: Marconi não sai do lugar. Pior é a situação de Lúcia Vânia: tinha 25,1% em maio, chegou a 33,1% em agosto e daí caiu para 29,4% em setembro.
Agora, leitor amigo, confira como estão bem Kajuru e Vanderlan. Kajuru tinha 15,6% em maio e, de lá para cá, quase dobrou: está hoje, segundo a última pesquisa do Grupom, com 26,9%. E Vanderlan também não fez por menos: de 17,2% em maio, pulou para 27,4% neste mês de setembro. Está claro, portanto: Kajuru e Vanderlan estão em tendência de alta acentuada, enquanto Marconi e Lúcia Vânia não conseguem conquistar novos eleitores ou perdem parte dos que chegaram a ter.
Essa é a verdadeira virada desta eleição: Jorge Kajuru e Vanderlan Cardoso nos calcanhares de Marconi Perillo e Lúcia Vânia, com Kajuru já dividindo o 1º lugar com o ex-governador, estão prestes a protagonizar uma das maiores reviravoltas eleitorais da história de Goiás – um acontecimento que terá repercussão em todo o Brasil e, não é exagero dizer, tão significativo quanto a surpreendente vitória de Marconi sobre Iris Rezende em 1998. Eles estão a um passo de fazer História.
Ninguém esperava por essa novidade. Muito menos Marconi e Lúcia Vânia, que entraram na campanha de salto alto já se considerando antecipadamente eleitos. Subiram em um pedestal e a partir daí passaram a aguardar o voto de gratidão dos goianos, Marconi pelo que fez em 20 anos de poder e Lúcia pelos 16 anos de Senado. A campanha que os dois fazem parece exigir do eleitor um voto que é direito dele Marconi e dela Lúcia. Na prática, um equívoco sem tamanho: se os goianos votassem olhando para trás, Marconi, em 1998, sequer teria sido eleito, pois era um zé ninguém enfrentando o maior líder do Estado, Iris Rezende, que havia sido prefeito de Goiânia, governador e ministro e era responsável pela construção de toda a infraestrutura de Goiás. Exatamente, aliás, como Marconi se apresenta nesta campanha.

REJEIÇÃO ASTRONÔMICA
Só que o eleitor tem a sua própria cabeça. Nunca, em tempo algum, um político goiano entrou em uma eleição majoritária com uma rejeição tão elevada quanto a do ex-governador Marconi Perillo. Ele faz a sua campanha constrangido pelo desprazer de ver o seu nome como o mais citado quando a pergunta é “Em quem você não votaria de jeito nenhum?”. Para agravar, o cansaço em relação a Marconi, que contamina Lúcia. E não só pelas coisas ruins, como pelas coisas boas (e o fato é que… chega). A fadiga vem dos 20 anos de poder, mais tempo que a ditadura de Vargas. Ou tempo igual ao da ditadura militar.
Segundo o instituto Grupom, na última pesquisa publicada no Diário da Manhã, a taxa de rejeição de Marconi chegou a astronômicos 44% dos entrevistados. É um desastre, um caso para a análise profunda dos cientistas políticos, em busca das suas motivações. Depois de duas longas décadas de poder, Marconi está pior do que Iris Rezende em 1998, quando, com 16 anos de mando absoluto no Estado, disputou e perdeu a eleição, mas com menos de 30% de rejeição.
A rejeição a Marconi cria uma massa de votos negativos, digamos assim, à disposição dos seus adversários na corrida pelo Senado. Não há dúvidas de que o principal beneficiário é Jorge Kajuru, seu principal antagonista na política estadual desde os mesmos 20 anos atrás. E é por isso que Kajuru está em tendência de alta nas pesquisas, tendo empatado tecnicamente com Marconi nas duas últimas que foram divulgadas, a do Diagnóstico e a do Grupom.

REAÇÃO ATABALHOADA
Enxergando nuvens negras no horizonte, Marconi perdeu a zona de conforto em que estava nas pesquisas e agora está sob pressão. Kajuru navega em uma tendência de alta e tem rejeição baixíssima, enquanto o tucano está estagnado (não sobe e não desce), ainda sem saber o que fazer para diminuir a sua monumental rejeição.
Até aqui, a estratégia de Marconi era ignorar Kajuru e gastar o tempo de campanha com ataques, algumas vezes rasteiros, contra Ronaldo Caiado. Mas Caiado não é candidato ao Senado e sim a governador. Marconi acordou. Nesta última semana, partiu para a guerra contra o vereador-radialista que ameaça a sua condução à mais alta Câmara Legislativa do país, porém escorregou no destempero verbal e caiu em um festival de baixarias.
O velho cacique tucano não é mais quem era. Chamou Kajuru de “ladrão, canalha, malandro, doido, mau caráter” e outros adjetivos incompatíveis com o que se espera de um dos mais antigos e consagrados líderes políticos do Estado. Foi chocante ver tais cobras e lagartos saindo da boca do tucano-chefe. O que ele conseguiu foi apenas atestar que está assombrado com a ascensão do vereador-radialista nas pesquisas, dividindo o 1º lugar na corrida pelas duas vagas ao Senado, em tendência de alta, com todas as chances de vencer.
Abandonar a soberba e enfrentar Kajuru foi uma decisão correta de Marconi para dar foco à sua campanha. Não adiantava mais se empenhar em combater Ronaldo Caiado, problema de Zé Eliton. Marconi não tem o antigo gás para desperdiçar com ele. Calamitosamente, os termos que o ex-governador escolheu pioram a sua situação porque, em Goiás, o eleitor não aprova quem faz campanha de ataques rasos. A rejeição de Marconi já é alta, beira a metade dos goianos e vai subir ainda mais com as opções erradas que está fazendo.

RESPOSTA ADEQUADA
Enquanto isso, Jorge Kajuru continua surpreendendo. Ele está sabendo dosar a sua campanha com momentos mais agressivos (assim é a sua natureza e o seu eleitorado gosta) e ocasiões em que faz questão de demostrar que tem equilíbrio e moderação para ser um senador da República. Foi nessa segunda linha de comportamento que ele respondeu, em vídeo distribuído pelo WhattsApp e pelas redes sociais, aos ataques rasteiros e adjetivos depreciativos, alguns caluniosos, lançados por Marconi.
Goste-se ou não dele, Kajuru é esperto e inteligente. Rapidamente, aproveitou a deixa, percebendo que Marconi baixou a guarda e se mostrou raivoso e assustado com a hipótese de uma derrota. O eleitor observa com atenção quando um líder consagrado e poderoso se vê em palpos de aranha e tenta se livrar do prejuízo. O vídeo de Kajuru mostrou cenas com o vereador-radialista falando com tranquilidade, apontando mazelas das gestões tucanas dos últimos 20 anos. No final, exibiu cenas do Jornal Nacional em que William Bonner narra denúncias do Ministério Público contra Marconi, inclusive as mais recentes.
Nada exagerado, nada ofensivo, mas apenas episódios e seus desdobramentos. Em outro vídeo, Kajuru usa a mesma técnica que Marconi usou quando venceu Iris Rezende com a ajuda do humor cáustico de Nerso da Capitinga e da “panelinha”. É o “carrapatão”, perseguido em uma hilária cena por um Kajuru que tenta exterminá-lo com um fumigador. É engraçado e… tem o seu sentido dentro do discurso do candidato do PRP. Mesmo porque, para Marconi, perder a eleição corresponderá a ser exterminado. Entendeu, leitor?
P.S. – As campanhas de Daniel Vilela e Zé Eliton se esforçam para tentar arrancar pontos preciosos de Ronaldo Caiado e forçar um 2º turno, o qual, sonham, seria uma nova eleição. No Brasil, inversões no 2º turno aconteceram com muita raridade, talvez dois ou três casos até hoje, porque, na realidade, a eleição continua sendo a mesma. De 30 anos para cá, tivemos em Goiás cinco pleitos com 2º turno e nenhum mudou o resultado do 1º turno, ao contrário, a diferença a favor do vencedor aumentou. Enfim, é de esperança que se vive. E… se houver 2º turno.

*José Luiz Bittencourt é jornalista e autor do Blog do JLB – blogdojlb.com.br
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Alan Ribeiro
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