
Goianos não aprovam discurso rasteiro contra adversários em época de eleição.
José Luiz Bittencourt
A três semanas das eleições, as campanhas de Zé Eliton e Daniel Vilela estão intensificando o combate à candidatura de Ronaldo Caiado, 1º lugar absoluto nas pesquisas, com votos suficientes para vencer no 1º turno – o que significa hoje mais de 1.300.000 sufrágios de frente. Previsível: tudo o que Zé e Daniel esperaram da campanha de rua e dos programas no rádio e na televisão lhes foi negado. Caíram nos braços da militância, fizeram carreatas, apareceram na telinha, postaram dia e noite nas redes sociais, falaram das suas propostas, tornaram-se mais conhecidos e… nada.
Pois é… nesta eleição, as pesquisas indicam que os goianos estão determinados a investir em uma mudança de profundidade nos rumos do Estado. Zé passa longe desse figurino. É continuidade rasa, do pior tipo, primária até. Mesmos nomes, mesmo governo, gestão de baixa qualidade, definida por quase 70% da população como regular, ruim e péssima, segundo as últimas pesquisas do Serpes e do Diagnóstico. Não tem sentido, assim, conferir mais quatro anos a um esquema de poder que se exauriu e não tem o que oferecer a não ser a repetição de erros e a reincidência de equívocos. Cansou. Basta.
Já Daniel Vilela traz nas costas o fardo de um partido antigo, o MDB, e a memória das trampolinagens dos seus dias dourados de poder. Mas ele, Daniel, é maior. Até certo ponto, sua candidatura conseguiu se descolar de uma legenda que perdeu a sintonia popular em Goiás e já há muito, muito tempo. Pelos seus méritos próprios, o candidato flutua acima dessa realidade. Tem inquestionável cara de renovação. Como não vai ganhar, pela carência de musculatura política e por ser visto como ainda verde demais para governar, ficará reservado para voos nos dias que virão. Zé Eliton, derrotado, desaparecerá na poeira do ostracismo, retornando, como escreveu o jornalista Batista Custódio, à sua fazenda em Posse ou à advocacia eleitoral ou a uma vexatória aposentadoria em uma conselharia de contas. Daniel, não. Ele sairá da eleição com encontro marcado com os goianos na eleição futura que achar melhor, seja para prefeito de Goiânia ou Aparecida seja para novamente o governo do Estado ou, repita-se, o que quiser.
Os dois – Zé e Daniel – ainda espernearão por pouco mais de 20 dias para escapar à fatalidade das urnas, destino que no caso do emedebista não será tão inglório quanto o do tucano. Por ora, estão sendo confrontados com a necessidade de se posicionar perante a iminente e esmagadora vitória de Caiado. O que fazer? A opção de criticar o candidato democrata com mais ênfase já foi adotada: ambos colocaram peças no palanque eletrônico chamando Caiado de incoerente, por ter sido aliado, no passado de Zé Eliton, de Demóstenes Torres e de Marconi Perillo, por um lado, e por outro sugerindo que também teria recebido contribuições eleitorais de empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato. Só isso, por enquanto, em termos do principal meio de comunicação de massa disponível para a campanha, que é a televisão.
E isso é pouco e infrutífero. Não provoca sequer um arranhão na impenetrável blindagem que o 1º lugar nas pesquisas, léguas à frente dos concorrentes, confere a Caiado. O que se pode dizer é que esses “ataques” apenas confirmam que Caiado é dono de uma biografia imaculada, que tem uma vida limpa na política e que, se já andou com Zé, Demóstenes e Marconi, essas foram más companhias que ele abandonou e não mais cultiva. Que, se recebeu doações de empresas para campanhas passadas, as declarou corretamente à Justiça Eleitoral, como reconhece o próprio anúncio contra ele, e portanto jamais praticou o caixa 2. Nem Zé nem Demóstenes nem Marconi podem se atribuir virtudes tais e quais.
O que Zé e Daniel tentam nas suas inserções na telinha para abalar a liderança acachapante, para eles, de Caiado, é coisa de criança, que não produz efeitos no mundo dos adultos. Os goianos querem mudanças e, pelo jeito, querem com rapidez, ao deixarem patente através das pesquisas que vão resolver o jogo no 1º turno, sem prorrogação. Caiado é a garantia segura de que o poder será arejado e saneado, em uma ruptura como poucas vezes se viu na história de Goiás. Eleito e empossado, estaremos livres da miríade de jaymes rincons, raquéis teixeiras, leonardos vilelas, joões furtados e demais vacas sagradas do Tempo Novo que hoje poluem o ambiente de governo e, não é exagero afirmar, seguram a marcha do desenvolvimento e do crescimento do Estado.
DISCURSO RASTEIRO
Mas o vão esforço para desconstruir Ronaldo Caiado não se limita às inserções na TV (e admitindo que a estratégia é duvidosa, Zé e Daniel a escondem nas pílulas para fugir do desgaste caso inserissem as peças nos programas, quando seriam identificadas com a campanha deles). Logo após as pesquisas do Serpes e do Diagnóstico, na semana passada, revelando que Ronaldo Caiado furou o teto e passou dos 43% (que correspondem a 63% dos votos nominais válidos e portanto garantem vitória folgada no 1º turno), Zé Eliton e Marconi Perillo retomaram o discurso de acusações contra o candidato democrata.
É o mesma coisa que eles vinham dizendo antes: Caiado, em seus anos no Congresso Nacional, nunca teria direcionado recursos, programas ou obras para Goiás. Em linguagem agressiva, os dois tucanos parecem ter combinado o uso da mesma frase: “Caiado nunca trouxe um prego para furar uma barra de sabão”.
A acusação que obviamente não é verdadeira: todo e qualquer parlamentar federal tem direito automático a emendas orçamentárias para beneficiar o seu Estado. Caiado, nas redes sociais e no seu programa de TV, exibiu abundantemente obras físicas e benefícios que levou aos municípios goianos com os recursos a que tinha direito em Brasília. De resto, foi e é legislador, não executivo. As pessoas compreendem isso com clareza. Marconi, em seus quatro anos no Senado, também não trouxe “um prego para furar uma barra de sabão” para Goiás.
Mas não é o que importa. Campanha de ataque geralmente se volta contra quem a faz. Não à toa, Marconi e Zé Eliton são os candidatos majoritários mais rejeitados. Zé não decola nas pesquisas. Marconi vive dias de agrura, com Jorge Kajuru lambendo os seus calcanhares no ranking para o Senado e Vanderlan Cardoso em crescimento contínuo. Ele e Lúcia Vânia estão ameaçados.
Até hoje, os ataques de Zé e Marconi a Caiado – que este jornalista não hesita em classificar como rasteiros e indignos do comportamento que ambos tiveram até hoje – não produziram nenhum prejuízo para o candidato democrata. Quem perde com essa baixaria é quem a promove: Zé e Marconi. Lúcia Vânia, por princípios éticos e inteligentemente, não fala mal de Caiado. Ela faz a campanha dela e mantém o tom respeitoso quando, de alguma maneira, menciona a oposição. De resto, não é candidata a governadora e sim a senadora. E mais: conhece o trabalho do democrata em Brasília e não se presta ao papel de espalhar notícias falsas a respeito de adversários. Ela está correta: o caminho que escolheu, é mostrar o que pode fazer na mais alta Câmara Legislativa do país, caso venha a merecer a preferência do eleitor. Marconi, que também não é candidato a governador e sim a senador, deveria seguir o exemplo – até mesmo para evitar ver a sua rejeição, já monumental, crescer ainda mais.
HUMILDADE FAKE
Uma apreciação do marketing das campanhas dos três principais candidatos a governador de Goiás leva à conclusão de que Ronaldo Caiado e Daniel Vilela estão sendo apresentados ao eleitor como realmente são, tanto na personalidade quanto em termos de aparência e falas. Já o governador José Eliton, não. Seus marqueteiros o convenceram a se transformar em um produto de gôndola de supermercado, só que falsificado e inexistente, o Zé, uma máquina robótica de falar.
Depois da segunda eleição de Dilma Rousseff, que ganhou com mentiras e enganações, o marketing exagerado ficou desmoralizado no Brasil. Qualquer candidato majoritário tem inteligência suficiente para saber que não é iludindo o eleitor que se vence uma eleição. Mas os magos da comunicação e da propaganda que trabalham para a campanha tucana não tiveram medo de nada. Eles criaram o Zé, gente com a gente, humilde e trabalhador, que ralou muito na vida para chegar até ao cargo de governador. O Zé falante. Uma ficção que, apresentada na televisão, causa espanto.
E o resultado aí está: a data da eleição chega em três semanas e a invenção do Zé não produziu qualquer resultado até agora. Não rendeu um décimo de ponto nas pesquisas. Caminha para perder no 1º turno e se tornar o único governador, em todos os tempos, a tomar uma derrota dessas proporções. É assim que o Zé em que José Eliton foi metamorfoseado vai ser lembrado.
*José Luiz Bittencourt é jornalista e autor do Blog do JLB – blogdojlb.com.br