
Por um placar apertado, quando já era madrugada, o Senado argentino rejeitou o projeto de lei que legalizaria o aborto no país. Foram 38 votos contra, 31 a favor, duas abstenções. Foi um longo debate em plenário, um discurso após o outro, realizado desde a manhã. Os indícios desde cedo eram de que o aborto perderia, mas isso não evitou que uma multidão de mulheres enfrentasse a chuva do lado de fora, numa vigília de horas. Havia manifestantes a favor da mudança da lei, entre as quais imperava o verde de seu movimento, mas também aqueles com o azul do contra. A Igreja Católica pressionou desde cedo, e os parlamentares passaram o dia recebendo mensagens de fiéis via WhatsApp. Quem queria mudar a lei defendia que abortos acontecem, legais ou não, e a única forma de evitar mortes desnecessárias de mulheres pobres seria permitindo sua realização. “As mulheres estão sozinhas”, afirmou a senadora Norma Durango. “O homem aborta antes, desaparecendo.” O argumento que venceu, porém, é o de que a vida começa na concepção. “Um aborto não será menos trágico porque é feito em uma sala de cirurgia”, defendeu o senador Esteban Bullrich, do partido do governo. Agora, uma nova lei será apresentada, propondo a descriminalização. Pode não ser legal, mas deixaria de ser crime.
Claudio Jacquelin, do La Nación: “A derrota no Senado da legalização do aborto só encerra, neste momento, o debate parlamentar de um projeto de lei. Mas não conclui o debate que foi aberto, tampouco voltamos à situação inicial. Ninguém imaginou que o Não venceria entre os senadores por apenas alguns votos a mais. Muito menos se poderia ter imaginado que dividiria tão transversalmente a quase todos os blocos políticos. Os antiabortistas se consideravam uma maioria absoluta e é por isso que Macri e seu núcleo duro celebram a decisão de terem iniciado a conversa. O primeiro efeito é que se pôs mais alto, na agenda pública, um tema quase tabu, e isto permitiu que se ouvisse uma profusão de argumentos. E o mais importante é a admissão, unânime, de que o aborto é uma questão real da qual não se pode ocultar. Muitos dos que votaram ou se expressaram contra a legalização se manifestaram a favor da descriminalização para a mulher que aborta.”
Fonte: Meio