Temer cede em tudo; Ainda não é certo que caminhões voltem

O presidente Michel Temer capitulou por completo. Em pronunciamento ontem à noite, transmitido pela TV quando o Fantástico mal começara, anunciou um corte de 46 centavos por litro do Diesel cobrado direto na bomba. O preço, garantido por 60 dias, se dará pela suspensão de Cide e PIS/Cofins. O governo federal também determinou pedágio menor, pois deixarão de ser cobrados os eixos suspensos — quando os caminhões fazem viagens de retorno vazios. O Planalto ainda estabelecerá uma tabela nacional com valores mínimos de frete e garantiu uma reserva de 30% do mercado da Companhia Nacional de Abastecimento para os caminhoneiros autônomos. Ao todo, as concessões custarão R$ 10 bilhões ao país, em grande parte para poupar prejuízos à Petrobras. Políticos da base aliada se queixam da política de preços da estatal, que mantém o combustível flutuando de acordo com o valor internacional do petróleo e do câmbio.

Panelas soaram por todo o país enquanto Temer falava.

O Cade não gosta da solução sugerida pelo Planalto. Desconfia que a tabela de preços por fretes leve à cartelização do transporte. Para a CNI, a tabela ficará os custos para cima sem atingir o problema principal da queda de preços: comprados por incentivos durante o governo Dilma, há mais caminhões do que o necessário nas estradas. (Folha).

Hoje é o dia chave. Não está garantido que os caminhoneiros voltem ao trabalho. “Para quem queria conquistas, está resolvido” disse em entrevista ao Poder360 Carlos Alberto Dahmer, presidente do Sindicato de Autônomos de Ijuí, no Rio Grande do Sul. Mas muitos dos homens que cruzaram os braços têm também reivindicações políticas que incluem, no limite, a queda de Temer e até uma intervenção militar. Num movimento descentralizado, é difícil prever como o conjunto vai reagir.

No Twitter, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, fez um discurso pela ordem. “Estamos reunidos sob a coordenação do Ministério da Defesa”, escreveu num. “Reafirmamos como diretriz operacional o foco na perene negociação para evitar conflitos”, seguiu noutro. Entrevistado por Rubens Valente, da Folha, o general da reserva Antônio Mourão também rejeitou um caminho fora da Constituição “Tem gente que quer as Forças Armadas incendiando tudo”, afirmou. “Soluções dessa natureza a gente sabe como começam e nao se sabe como terminam.” Quando ainda estava na ativa, Mourão se fez o mais vocal crítico ao governo Temer dentre os militares.

Cristiane Junglut: “Temer contava com a ação das Forças Armadas, mas ao longo deste domingo foi convencido pelos aliados a ceder e a fazer um acordo que acabasse de vez com a paralisação, que já dura sete dias e provocou um colapso no país. Na prática, acabou cedendo à proposta do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que incluiu a proposta de zerar a PIS/Cofins no projeto de reoneração da folha salarial, que foi ao Senado, e criou um impasse. Temer cedeu porque sua estratégia de apostar na Garantia da Lei e da Ordem não deu o resultado esperado. Os caminhoneiros continuaram parados.” (Globo)

Pois é… Josette Goulart, da Piauí, acompanhou alguns dos grupos de WhatsApp formados pelos caminhoneiros. Descobriu, espalhados, centenas de lideres entre os dois milhões de caminhoneiros do país. “Cada bloqueio tem seu líder”, explicou um deles. E nenhum tem conseguido se destacar para além de seu grupo particular. O tema que parece unir os quatro grupos observados pela repórter é outro: a simpatia por Jair Bolsonaro.

O governo está convicto de que houve um locaute. Ou seja: os patrões estão em conluio com os trabalhadores. É ilegal. A Polícia Federal instaurou 37 inquéritos em 25 estados. Além disso, a Polícia Rodoviária já aplicou 349 multas ao longo dos últimos dias, que totalizam R$ 1,77 milhão. Segundo o Código de Trânsito Brasileiro, é infração gravíssima “usar qualquer veículo para, deliberadamente, interromper, restringir ou perturbar a circulação na via sem autorização do órgão ou entidade de trânsito”. (Estadão)

A impressão parece ser confirmada por um vídeo obtido pelo Cade. Divulgado no último dia 11 pela Federação de Empresas de Transporte de Carga de São Paulo, o tom é de ameaça. “Então os caminhões são o problema?” pergunta o locutor. “Vamos sumir com eles por apenas cinco dias.”

Ontem, onze aeroportos chegaram a ficar sem combustível, inclusive o de Brasília que recebeu querosene à noite. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal, o abastecimento de carne de aves e suínos pode demorar até dois meses para se normalizar depois que for encerrada a greve. Nas feiras livres, os preços dos alimentos dispararam. Na rede de saúde pública de alguns estados, como o Rio, cirurgias eletivas estão sendo suspensas.

Pablo Ortellado: “Sabemos pouco sobre a mobilização dos caminhoneiros. No debate no meio digital, o que aconteceu foi o seguinte: uma eufórica adesão da população mais despolitizada e, depois, uma adesão dos ativistas de direita, acompanhada de uma hesitação dos de esquerda. Acompanhando tweets e comentários no Facebook, minha impressão é que as pessoas não estão se sentindo prejudicadas, mas se vêm como partícipes do processo que tem como alvo o governo Temer. O fato da Petrobras estar no centro da Lava Jato pode ter contribuído também para a leitura — que aparece com frequência — de que os combustíveis estão caros por conta da roubalheira. A direita logo encampou as manifestações, colando os protestos no ódio aos políticos e aos impostos altos (essa foi também a abordagem das associações patronais).”

Eduardo Giannetti da Fonseca: “Em 1988 tínhamos uma carga tributária normal para um país de renda média de 24% do PIB. De lá para cá, todos os governos, sem exceção, aumentaram a carga. Hoje, ela está em torno de 34%. A capacidade de investimento do Estado caiu de 1988 pra cá. Metade dos domicílios não tem coleta de esgoto. Nossos indicadores de saúde, educação, segurança são deploráveis. O Bolsa Família, que é o principal programa de transferência de renda do governo, representa 0,5% do PIB. É praticamente a migalha que cai da mesa. Então, realmente tem algo profundamente errado nas finanças públicas brasileiras. Esta revolta dos caminhoneiros é o embrião de rebelião tributária. É uma insubordinação que começa quando a população não aceita mais a legitimidade do governo para tributá-la.” (Folha)

Fonte: Meio Assessoria

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Alan Ribeiro
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