“A Forma da Água” foi grande vencedor, mas o Oscar 2018 foi da diversidade

“Pantera Negra” está quebrando recordes, “Mulher-Maravilha” foi um dos maiores sucessos de 2017, “Viva – A Vida É uma Festa” fez os Estados Unidos (e o mundo) inteiro chorar, mulheres de Hollywood se uniram para denunciar abusos e assédios, e muito, muito mais aconteceu no último ano na indústria do entretenimento.

A Academia observou com atenção toda essa movimentação e não quis ficar para trás. E se o Globo de Ouro foi a celebração da força das mulheres, o Oscar 2018 se tornou a festa da representatividade de forma mais ampla.

O grande vencedor da noite foi “A Forma da Água” –que levou as estatuetas de melhor filme, direção, trilha sonora e design de produção–, mas se houvesse um Oscar para melhor discurso, certamente seria de Frances McDormand, eleita a melhor atriz por “Três Anúncios para um Crime”. Ao receber o penúltimo prêmio da noite, ela anunciou de cara: “Segurem-se, porque eu tenho algumas coisas a dizer”. Depois de agradecer a seus colegas e família, ela pediu que todas as mulheres indicadas em todas as categorias se levantassem e lembrou que todas ali tinham projetos que precisavam de financiamento. “Não falem conosco hoje na festa. Nos chamem para os seus escritórios, ou venham até os nossos, o que for melhor para vocês”, disse. E finalizou pedindo inclusão.

Kevin Winter/Getty Images

 

 “A Forma da Àgua” foi o grande vencedor da noite, com quatro prêmiosImagem: Kevin Winter/Getty Images

Foi o ponto alto de uma cerimônia que já vinha batendo na mesma tecla.

Entre os vencedores, Guillermo del Toro se tornou o terceiro mexicano a levar o prêmio de direção nos últimos anos (com um discurso sobre ser imigrante); Jordan Peele ficou com roteiro original por “Corra!”, um filme surpreendente sobre racismo, dizendo que sabia que os espectadores queriam ouvir essa história; Darla K. Anderson, uma mulher lésbica, e Adrian  Molina, um homem latino gay, aceitaram o Oscar de animação por “Viva”; “Uma Mulher Fantástica”, do Chile, se tornou o primeiro filme protagonizado por uma atriz trans a ganhar um Oscar (de filme estrangeiro); e a roteirista do curta-metragem “The Silent Child” fez seu discurso em língua de sinais.

Mas o poder da representatividade foi ainda mais reforçado nos momentos que não envolviam estatuetas. Ashley Judd, Annabella Sciorra e Salma Hayek, todas acusadoras de Harvey Weinstein, o todo-poderoso produtor que caiu em desgraça depois que casos de assédio e até estupro vieram à tona, subiram juntas ao palco para lembrar justamente as mulheres corajosas que denunciaram abusos.

Kevin Winter/Getty Images

 

 Jordan Peele recebe o Oscar de roteiro original por “Corra!”Imagem: Kevin Winter/Getty Images

Elas em seguida apresentaram um vídeo com depoimentos de diversas personalidades enfatizando que as histórias diversas que estão sendo contadas agora se tornaram sucessos porque as pessoas queriam ouvi-las. Foi esse o recado de gente como Mira Sorvino (também acusadora de Weinstein), Greta Gerwig (indicada a direção), Jordan Peele (vencedor de roteiro original), Ava Duvernay (diretora de “Selma” e “Uma Dobra no Tempo”), Kumail Nanjiani (indicado a roteiro adaptado por “Doentes de Amor”), e Geena Davis (estrela de “Thelma & Louise” e fundadora de um instituto para promover igualdade de gênero no entretenimento), entre outros.

O apresentador Jimmy Kimmel já havia dado o tom da noite ao abrir a cerimônia: em seu monólogo, além de lembrar de Weinstein e dos casos de assédio, fez piada sobre a diferença salarial entre Mark Wahlberg e Michelle Willians nas refilmagens de “Todo Dinheiro do Mundo” e apontou que apenas 11% dos filmes são feitos por mulheres.

É claro que o foco na representatividade foi mais no discurso do que na premiação em si (lembrando que apenas 23% dos indicados eram mulheres). Mas a Academia mostrou que a polêmica dos “Oscars so White” (Oscar muito Branco) balançou as estruturas desta instituição quase centenária, e que seus membros querem estar na vanguarda de uma mudança mais profunda em Hollywood.

Kevin Winter/Getty Images

 

 Ashley Judd, Annabella Sciorra e Salma Hayek apresentam vídeo sobre representatividadeImagem: Kevin Winter/Getty Images

Veja a lista de vencedores:

FILME
“A Forma da Água”

DIREÇÃO
Guillermo del Toro – “A Forma da Água”

ATRIZ
Frances  McDormand – “Três Anúncios para um Crime”

ATOR
Gary Oldman – “O Destino de uma Nação”

ATRIZ COADJUVANTE
Allison  Janney – “Eu, Tonya”

ATOR COADJUVANTE
Sam  Rockwell – “Três Anúncios para um Crime”

ROTEIRO ORIGINAL
“Corra!” – Jordan Peele

ROTEIRO ADAPTADO
“Me Chame pelo seu Nome” – James Ivory

FOTOGRAFIA
“Blade Runner 2049” – Roger A. Deakins

ANIMAÇÃO
“Viva – A Vida é uma Festa”

FILME ESTRANGEIRO
“Uma Mulher Fantástica” (Chile)

DOCUMENTÁRIO
“Ícaro” – Bryan Fogel e Dan Cogan

CANÇÃO ORIGINAL
“Remember Me”, Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez – “Viva – A Vida É uma Festa”

CURTA DOCUMENTÁRIO
“Heaven is a Traffic Jam on the 405”

DESIGN DE PRODUÇÃO
“A Forma da Água”

FIGURINO
“Trama Fantasma

MIXAGEM DE SOM
“Dunkirk”

EDIÇÃO DE SOM
VENCEDOR: “Dunkirk”

CURTA DE ANIMAÇÃO
VENCEDOR: “Dear Basketball”

CURTA-METRAGEM
“The Silent  Child”

TRILHA SONORA ORIGINAL
“A Forma da Água” Alexandre Desplat

EFEITOS VISUAIS
“Blade  Runner 2049”

MONTAGEM
“Dunkirk”

MAQUIAGEM E CABELO
“O Destino de Uma Nação”

Foto da capa: Frances McDormand recebe o Oscar de melhor atriz por “Três Anúncios para um Crime”Imagem: Kevin Winter/Getty Images

Fonte: UOL

Compartilhe seu amor
Alan Ribeiro
Alan Ribeiro

Alan inicia seus trabalhos com o único objetivo, trazer a todos informação de qualidade, com opinião de pessoas da mais alta competência em suas áreas de atuação.

Artigos: 19357