
Sempre que em retiros, encontros ou reuniões em minhas andanças, os que não conheciam ao ver no crachá o nome de Ipameri perguntavam onde ficava, quantos habitantes, qual a base econômica do município…
Todas essas respostas são encontradas por ai. O que mais intriga é a beleza que brota da experiência desta terra.
Terra Entre Rios, cidade edificada, com nome indígena sobre o passado de um arraial, terras do Divino Espírito Santo do Vaivém. Da promessa de um homem, ofendido de cobra uma porção de terra até o alcance da vista, foi dada ao Paráclito.
Seminarista, vinha de folga e quando na estrada, do ônibus enxergava a torre da Catedral, o coração ardia e os olhos marejavam.
Passem mil anos, continuaremos amando a terrinha!
O que infelizmente as pessoas não sentem, é o que somente os que no documento, na vivência ou no coração, carregam o nome de Ipameri podem sentir.
Poderíamos falar do Ipameri que não tem emprego, difícil… entraríamos talvez nas questões políticas… e o que hoje me motiva a rabiscar de emoção essas palavras é o amor à terrinha.
No diminutivo eu ouso chamar o extenso perímetro do município, no diminutivo eu ouso chamar a terra de gente grande que agiganta a terrinha.
Ipameri das desobrigas do Monsenhor Domingos, do Colégio das Irmãs e dos piqueniques na linha de tiro. O sexto Batalhão, a banda do Piray. O Grêmio Espírita, o cortume, a Gimirim, a Santa Cruz e a Santa Cecília.
O trem que chegava na estação onde hoje é a biblioteca.
Uma cidade que eu a sinto, pelo ardor vindo lá do passado. O amor dos intendentes, a colônia dos turcos e a construção do CEPEM. Os Santinoni, os Marot, os Carneiro, os Garcia Lopes lá do Ribeirão do bisavô Luciano… gente que fez a história ser vida e hoje pra nós é memória. Uma Ipameri metida, rica e à frente de seu tempo. De ter a primeira Usina Hidroelétrica, o primeiro cinema, a primeira agência do Banco do Brasil.
Com luz elétrica ficou mais fácil e mais feliz. Ipameri dos bailes no Jóquei Clube. Dos domingos no Itaóca.
A construção da nova matriz, que enriquecendo-se com as bênçãos do bispado se transformou em Catedral.
O Sindicato Rural, a riqueza que é gado, grão e leite.
Dona Dionísia que ajudou o parto de tantas, Dona Nilza e Sr. Rafael do Amaral que acudiram os pobres da saída pra usina.
Quem nunca deu umas voltas em torno do quartel caminhando? Que não tomou leite Filomena ou não companhou os festejos de Nossa Senhora D’Abadia?
Quem não conhece Sr. João Carneiro o “fazedor de dentadura” ou nunca ouviu dizer do Getúlio tira dentes?
Torcida do Fantasma…
Quem já comprou na Caprichosa, comeu uma maia no bar do Fio ou comprou um cartão na Tipografia Minerva?
Lembram do fusca do Pe. Edmundo?
Do Sr. Zé Quinan fazendo o lanche no Genaro…
A vó fala até hoje da Pensão Rex, do caminhão do Sr. João Estrela, dono do cinema.
A sorveteria Paulista com aquele colegial delícia!
A farmácia da Nona, o mercado velho, a escola do Sr. Zé Pio de Santana, o Pernalonga, a Branca de Neve, o Tico & Teco, a fanfarra do Polivalente…
O Bacupari, o Coral, a Cerâmica da Dona Margarida.
O Centro da Diná, o da Irmã Inês e o da Tia Maria Helena.
A Escola Agrícola – menina dos olhos.
Quem não se lembra de Lamis e a construção do Palácio Municipal? E da querida Enedina?
Ipameri!
Nasci e moro numa cidade onde reside a Glocinda e no passado morava a Dona Querjina. Já viram esses nomes noutras terras?
Aqui tem o Anastácio, andante nosso de bengala, chapéu, capanga e horário pro almoço.
No Asilo São Vicente, conversando com seus “bichos” se refugia a Teresa Preta, Teresinha dos litros, sem falar os mitos das outras gerações…
Tem Universidade, tem Caramuru, tem Gazim.
Tem Seu Juca Troncha na carroça enfeitada. O açougue do Sr. Augusto com a melhor linguiça pura e Zé do Clarindo onde compro foguete. (Aqui também, quase não se pôde soltar foguetes.. Kkkk).
A Creche das Irmãs, o ponto de carroças, o coreto da praça e o melhor Carnaval da região.
A terrinha tá crescendo, mendigos usam da liberdade da Praça da Liberdade… e a violência insiste em bater nas portas.
Aqui tem Professor Zuzu, a saudade do Professor Benildo e o legado de Rafa e César Ceva.
Tinha o padre Joel barbudo fazendo o programa na Rádio Xavantes e tem hoje outro padre, também Joel, filho da terrinha. A rádio e o programa perduram até hoje, já Joel ganhou licença, casou, é duas vezes pai e professor na capital.
Por falar na bonita Goiânia, tem por ai um calhamaço de fichas. Gente que se espalhou… formam o “tô por ai, mas sou de Ipameri.”
Tem a arte nossa. A pintura da Narria Basílio, a mestria do Sr. Leônidas professor de violão.
A casa das Balandas, a do Vicente Marot e a do Valfredo Perfeito.
Quem estudou fora há de saber onde fica o Sovaco Molhado e o Berra Lobo.
Cabem ainda muitas reticências, por isso é a pergunta difícil de resposta.
Tem de ser com a mão, o pé, a presença e o coração.
Só assim saberão o que é ser daqui.
Ipameri tinha Maria Edreira, Emídia, tinha Nando e tinha Isméria… e hoje tem saudade.
Ipameri do Zé, da Maria, terra sua e terra minha.
Parabéns para essa nossa terrinha tão amada e única. Construída por estes citados e outros tantos que no esquecimento ou no anonimato fizeram de forma efetiva a vida se desenrolar e acontecer a cidade.
147 anos de emancipação, outros mais de vida vivida nesta terra.
A terra do Divino Espírito Santo do Vaivém.
Parabéns Ipameri. Aquele abraço a todos que falam com a boca boa de onde são e que são daqui! Sejamos o futuro e se você tem reticências a acrescentar, enriqueça esta homenagem, tributo à terrinha.
Que Deus habite esta cidade!
Paulo Garcia Lopes