
Aconteceu de novo há alguns dias. João Doria, o político sensação dos últimos tempos, percorreu a passos milimétricos o longo circuito de embarque do aeroporto de São Paulo para mais uma viagem internacional. Desta vez à China, onde estaria com financistas, dirigentes estatais, prefeitos de províncias como Xangai (também conhecida como Shanghai) e empresários. Cena inusual: o alcaide de São Paulo teve que parar a cada pequeno avanço, tamanho o número de cumprimentos a que era submetido. Vários ali queriam parabenizá-lo, rogar seu nome a candidato presidencial, incentivá-lo à disputa. A cena se repetiu no avião. Na escala em Dubai. E mesmo do outro lado do mundo, em terras orientais, nas quais foi recebido com tapete vermelho e faixas de boas vindas, tal qual um chefe de Estado. Desde que assumiu, com rotineira frequência, Doria é ovacionado por onde passa, enquanto seus pares ouvem apupos. Tiram selfies com ele, o beijam, o abraçam. Doria foi convertido em um verdadeiro avatar da sorte na administração pública, um pop-star da política, ramo de atuação que anda mais em baixa que o de ladrão de galinhas. Aos olhos dos brasileiros ele tem se diferenciado por exibir um novo jeito de governar – mais em sintonia com os anseios de moralidade, eficiência e seriedade almejados pela população nos dias de hoje. Em poucos meses de mandato na prefeitura da maior cidade brasileira, Doria virou o jogo. Coleciona epítetos de bom gestor, reconhecimentos, apoios. Segue, como nenhum outro, em alta para as eleições de 2018. Em todas as pesquisas é apontado como o de menor rejeição. Uma espécie de sobrevivente designado em um ambiente infestado de candidatos corruptos, parlamentares encrencados e líderes metidos em esquemas escabrosos. Dentro do próprio ninho tucano peessedebistas de carteirinha admitem não ter como frear a onda Doria.
E seria de fato um tremendo erro. O empresário-apresentador, que entrou no Executivo pela porta da frente e projetou-se como um outsider das corriolas fisiológicas, transformou-se numa alternativa viável fora das velhas e desgastadas panelas de conchavos dos políticos de sempre. Seus potenciais adversários dentro do PSDB, o senador Aécio Neves, o governador Geraldo Alckmin e o ex-ministro José Serra foram ou estão sendo abatidos a golpes de escândalos, que vão de desvios em obras do metrô do Estado a participação nas tramoias da Lava Jato. Alckmin, criador da criatura, viu seu pupilo ir muito além dele na preferência popular – embora tenha tido seu nome testado em escrutínio presidencial, com propaganda nacional intensa para se eleger. Sem sucesso. Doria hoje, antes de entrar em campo, já se posiciona à frente de Aécio e Alckmin nas pesquisas e só uma disposição insana de repetir propostas do passado levaria a esquadra tucana a desconsiderar esse cenário. Analistas e cientistas políticos concordam sobre o diagnóstico: as ambições de cada um no PSDB não podem – ou não deveriam – se sobrepor às chances efetivas de levar a disputa de 2018 com um candidato que mostrou grande poder de convencimento nas urnas e que galgou prestígio de maneira acelerada em vários segmentos. “Se Doria chegar no começo do ano que vem com 20% e Alckmin se mantiver nos atuais 7%, quero ver quem no partido vai escolher o governador”, diz um dirigente tucano. Nesse contexto, seria na verdade um ato de grandeza política do governador paulista o recuo de suas pretensões, cedendo espaço e abençoando a ascensão do apadrinhado. A data para o gesto, inclusive, já está definida. Em conversa na última semana, o senador Tasso Jereissati (CE) acertou com Alckmin que o presidenciável do PSDB será escolhido até o mês de dezembro. Tudo converge para Doria. Em evento com empresários na quinta-feira 3 em Curitiba, o prefeito de São Paulo foi paparicado como se já fosse o candidato a presidente do partido.
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