
O governo obteve, sim, uma vitória robusta nesta quarta-feira. Por 263 votos a 227, a Câmara rejeitou a denúncia que Rodrigo Janot, apresentou contra o presidente Michel Temer. Rejeitar, no caso, significava dizem “sim” ao relatório do deputado Paulo Abi Ackel (PSDB-MG), que recomendava que se arquivasse a patuscada do procurador-geral. Houve duas abstenções, e 19 parlamentares não compareceram. Dois não votaram: o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e Adail Carneiro (PP-CE), que está licenciado. Seu suplente não foi convocado. Ah, houve roda de choro na casa de Caetano Veloso…
Na prática, o governo obteve até um pouco mais de votos do que esperava. A expectativa era de 280. Considerando que os adversários do presidente é que precisavam de dois terços da Casa, podem-se colocar na cota do governo as 19 ausências e as 2 abstenções — vale dizer: 284 votos. Os irrealistas falavam em até 300; os otimistas torciam por 257, correspondentes à metade mais um da Casa. Assim, o resultado foi até um pouco superior à expectativa dos otimistas prudentes.
Setores da imprensa se apegam a alguns temas que são verdadeiros vícios. Um deles é o tal fisiologismo; é o dando que se recebe. O governo empenhou, só no mês passado, R$ 1,8 bilhão em emendas parlamentares. Fazer o quê? A fatia reservada a essa rubrica no Orçamento deste ano é de R$ 6,3 bilhões. Entre os contemplados, estão também deputados de oposição. Uma das campeãs na modalidade é Alice Portugal (PCdoB-BA), que votou contra o presidente e ainda denunciou a compra de deputados com… emendas.
À diferença daquela música de Lupicínio Rodrigues, nem sempre a vergonha é a herança maior deixada a certos e a certas moralistas, não é mesmo?
Sim, também há a acusação de que o governo andou preenchendo cargos de segundo e terceiro escalões em troca de votos. O que vocês querem que eu diga? Nas democracias, especialmente no dito presidencialismo de coalizão, este que temos, tais trocas são legítimas e fazem parte do jogo. Mas elas, por si, não seguram um governante, ou Dilma não teria caído, certo?
A verdade é que houve gente confundindo presidente da República com o antigo peru de Natal, que morria na véspera. Poucos atentaram, entre outras coisas, para a ruindade da denúncia de Rodrigo Janot, que não apresenta contra o presidente nada além de conjecturas e operações mentais.
De resto, não tenho dúvida de que, se o governo recorrer a emendas e cargos para aprovar, por exemplo, a reforma da Previdência — e, de novo, nada haverá de errado nisso —, alguns que agora criticam o presidente haverão de aplaudi-lo, chamando-o de pragmático.
A verdade é que essa conversa fica bem, como lembrou meu amigo e também radialista Guilherme Macalossi, lá de Farroupilha, numa roda de choro de artistas na casa de Caetano Veloso.
O choro também é livre.
Chorem, artistas, chorem!