Pescadores de almas

Simão era irmão de André.

Ambos eram pescadores e suas preocupações restringiam-se às necessidades básicas da família.

Sem aspirações maiores, limitavam-se à pesca e aos deveres decorrentes de uma existência simples.

Certo dia, os amigos mais próximos lhes narraram novidades a respeito de um certo profeta.

Como eram pessoas sonhadoras, que ansiavam por encontrar salvadores capazes de solucionar todo e qualquer problema, acrescentavam às narrativas detalhes da imaginação deles próprios.

Irresponsáveis, tais amigos desejavam, em verdade, viver sem o esforço do trabalho, sem o sofrimento que depura.

Simão era um homem cético.

Ouvindo as mirabolantes histórias e sentindo o entusiasmo ingênuo dos amigos, experimentou um desconhecido ressentimento do estranho profeta, que lhe parecia ser um mistificador a explorar a ignorância das massas.

Recusou-se a ir ouvi-lO.

Algo, porém, perturbava sua intimidade e uma inquieta curiosidade o empurrou a empreender a marcha na direção do lugar onde o Messias iria falar.

Respirando o ar frio do amanhecer, o pescador viu-se surpreendido pelo grande número de pessoas silenciosas que seguiam pelo mesmo caminho.

Muitos doentes eram conduzidos, enquanto vários idosos necessitavam de apoio para prosseguir.

Um misto de piedade e ira tomou Simão.

Aquelas pessoas lhe pareciam estúpidas, entregando-se a um aventureiro.

Quando atingiu o alto da colina, encontrou densa multidão.

Enquanto aguardavam o Mestre Nazareno todos falavam sobre as próprias necessidades e expectativas.

Então, Ele apareceu. Sua figura impôs silêncio sem nada dizer.

E logo que começou a falar, foi interrompido por uma mulher que trazia nos braços uma criança cega.

Senhor, cura minha filha, e eu Te seguirei. – Disse desesperada.

Porque ela se encontrava atrás de Simão e, trêmula, chorava, ele tomou a menina nos braços e avançou até a primeira fila.

Jesus acercou-Se, fitando Simão, sem dizer uma só palavra.

Na sua intimidade, porém, ele pareceu escutar: Eu te conheço Simão, desde ontem…

As mãos do Mestre tocaram levemente os olhos sem vida da menina, enquanto dizia: Vê, filha, em nome de meu Pai.

Eu vejo, eu enxergo! – Gritava a menina entre lágrimas, no instante seguinte.

Quando Jesus desceu Seu braço, a manga de Sua túnica tocou Simão, que estremeceu, encantado com a luz daqueles olhos brilhantes.

E ali ele ficou, paralisado, perdendo o contato com o mundo que o cercava.

Ao voltar a si, estava sozinho. A hora avançava.

Profundamente comovido voltou para casa.

Não era o mesmo. Nunca mais voltaria a ser.

Interrogava-se, desejando saber de onde e desde quando O conhecia e O amava.

Na acústica da alma, no entanto, ouvia apenas desde ontem…

Foi nesse estado de espírito que, em formosa manhã, enquanto organizava as redes com o irmão, foi surpreendido pela presença do Divino Amigo que, a partir daquele momento os fez pescadores de almas.

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Alan Ribeiro
Alan Ribeiro

Alan inicia seus trabalhos com o único objetivo, trazer a todos informação de qualidade, com opinião de pessoas da mais alta competência em suas áreas de atuação.

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