Muito se fala sobre o fenômeno Trump. Como o magnata conseguiu derrotar todo o poderoso establishment de Washington, Wall Street e da mídia? Fala-se muita bobagem, claro. Afinal, é a própria leva dos derrotados que impõe sua narrativa. Essa turma continua sem compreender direito o que aconteceu.
Em que pesem as claras diferenças, algo parecido se dá com João Doria, em São Paulo. Doria não é Trump, não tem seu estilo fanfarrão. Mas as semelhanças são muitas: um empresário de sucesso, que vem de fora da política, com a coragem de desafiar o politicamente correto, a grande imprensa, e se comunicar diretamente com o povo, esse ilustre desconhecido da elite que adora falar em seu nome.
Doria chegou botando para quebrar, vencendo logo no primeiro turno, e com um apoio tímido do próprio partido. Em seguida, impôs um novo ritmo de trabalho que políticos e servidores públicos em geral não estão acostumados. Visitas surpresas para averiguar a gestão, metendo a mão na massa como gari em atos simbólicos, e limpando a cidade dos pichadores criminosos.
Tudo isso fez com que Doria ganhasse ainda mais aprovação por parte da população. Mas eis o irônico: o aumento de ataques na imprensa é diretamente proporcional ao crescimento de sua estima perante o povão. Aquele que a esquerda rotula de “coxinha” é na verdade quem goza do respeito popular. Enquanto isso, são os que se dizem representantes dos pobres, os “intelectuais”, jornalistas e artistas, que partem para ataques cada vez mais violentos contra o prefeito.
Em evidência aqui está o mesmo tipo de fenômeno que explica Trump e o Brexit: essa elite “progressista” perdeu completamente o elo com a realidade, pois vive numa bolha e enxerga o povo somente como uma abstração.
O caso dos pichadores é sintomático. O povo quer cidade limpa, quer a sensação de lei e ordem. Mas os “intelectuais” defendem os marginais, que chamam de “artistas”, enquanto suas próprias casas continuam protegidas dos mesmos pichadores que defendem. A hipocrisia é total, e todos já se deram conta disso. É por essa razão que Doria conta com amplo apoio em sua cruzada contra esses delinquentes, enquanto um juiz socialista decide rasgar a lei que deveria zelar para fazer ativismo ideológico, prejudicando milhões de cidadãos decentes.
O fenômeno não é novo, mas sua dimensão sim, graças às redes sociais. A esquerda fala em nome dos pobres e das “minorias”, mas na prática prega bandeiras que prejudicam essas pessoas. Enquanto isso, aqueles retratados como monstros terríveis por essa esquerda são os que realmente despertam aplausos do povo. Só resta à esquerda chorar no Facebook e atacar a democracia e esses “alienados” todos que preferem a direita.
Doria conta com amplo apoio em sua cruzada contra pichadores, enquanto um juiz socialista rasga a lei para fazer ativismo ideológico, prejudicando cidadãos decentes. COLUNA DE RODRIGO CONSTANTINO *REVISTA ISTOÉ