Goiás planeja reativar antiga estrada de ferro como atração turística

Governos municipais, estadual e federal pretendem retomar a viagem de passageiros na antiga linha férrea que passa por 14 cidades goianas. Sete delas têm estações restauradas

A Estação de Pires do Rio, que após ser restaurada foi transformada em um Museu Ferroviário, é uma das 14 incluídas no roteiro do trem de passageiros voltado ao turismo(foto: Antonio Cunha/CB/D.A Press)

Enquanto o Governo do Distrito Federal fala em retomar o transporte de passageiros no trecho da estrada de ferro entre Brasília e Valparaíso (GO), por meio de um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), o Governo de Goiás anuncia a volta das viagens na antiga Estrada de Ferro Goiás, com trens turísticos. Diferentemente da ideia brasiliense, o projeto goiano conta com estações e uma composição preservadas. Mas também falta um estudo para apontar custos, benefícios e obstáculos.

O projeto do primeiro trem turístico de Goiás prevê um ônibus aberto, com opção de city tour com passeios por Goiânia até a estação de Senador Canedo, a 28 km da capital do estado. O primeiro trecho do trem iria de Senador Canedo a Bonfinópolis. Os trechos variam, em média, de 30km a 50 km. Sete das 14 estações (confira mapa) que podem integrar o roteiro foram restauradas pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Algumas servem como pontos de venda de artesanato.

A Ferrovia Centro-Atlântica, concessionária que administra a antiga Estrada de Ferro Centro-Oeste com transporte de carga, ofereceu uma locomotiva para fins turísticos. O Ministério do Turismo, o Governo de Goiás, o Iphan, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e representantes de 14 municípios goianos discutem o projeto. Os trechos que serão atendidos pelo trem turístico e a periodicidade das viagens serão definidos pelo estudo de viabilidade técnica e econômica, que deve ser concluído em novembro.

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História

O apogeu e a decadência de Ipameri, no sudoeste goiano, estão diretamente ligados à chegada e partida do trem. A possibilidade de o município voltar a receber o serviço de transporte de passageiros pela estrada de ferro mexe com a população. “A euforia das pessoas é muito grande. Tem uma fatia da população muito saudosista. A outra é aquela que ouviu as histórias dos pais, dos avós e que fica maluca para entrar num trem”, conta Beth Costa, integrante do Consórcio Intermunicipal de Cultura da Estrada de Ferro.
O projeto do trem turístico tem um desafio a ser vencido em Ipameri. Os trilhos que levavam à estação do centro da cidade foram arrancados pelo Batalhão Mauá, em 1976, quando o trem de passageiros deixou de circular. A estrutura foi transferida para um local distante cerca de 4km do centro da cidade, onde foi erguida outra estação. “O acesso é bucólico, mas intransitável na época da chuva”, diz Beth Costa.
Os representantes de Ipameri no projeto do trem de turismo trabalham com duas possibilidades: a construção de uma mini-estação, mais próxima do centro urbano e pensada para receber turistas, e a construção do anel viário e o asfaltamento da via que leva à estação construída nos anos 1970. “Os estudos estão sendo feitos, estamos participando de seminários. Ainda não temos um prazo de quando teremos essa resposta. Mas acreditamos que o trem de turismo terá um impacto muito grande na cidade”, comenta Beth Costa.

Levantamento

Na semana passada, equipes lideradas pela Goiás Turismo começaram a levantar as informações sobre os municípios envolvidos para o estudo de viabilidade do trem de passageiros. “Paralelamente a isso, publicamos um edital para contratar a empresa que vai fazer a viabilidade técnica, inspecionar o trilho, a bitola, definir o tipo de vagão. Isso deve custar R$ 100 mil, que vamos custear”, conta Fabrício Amaral, presidente da Goiás Turismo. Só após a conclusão dos estudos, o próximo passo será conseguir a doação dos carros, prometida pela VLI.
Portanto, assim como o VLT entre Brasília e Valparaíso, não há verba e nem um custo estimado do trem turístico goiano. A atual administração do Distrito Federal prometera o VLT para março. Em junho, recuou e disse não haver mais prazo. Já o Governo Federal e a Goiás Turismo, a agência estadual criada para fomentar o setor, anunciou que o serviço turístico sobre trilhos entraria em operação até o fim deste ano. Nesta terça-feira (30/7), Fabrício Amaral admitiu não ter como definir uma data.
O presidente da Goiás Turismo disse que o serviço será prestado por meio de concessão. A escolha das empresas tocarão o projeto só ocorrerá em 2020. “Baseado na experiência de Curitiba-Morretes, acreditamos que o potencial é para transportar o mesmo número de passageiros por dia, ou seja, 360 ou mais. Temos uma região belíssima, com muita história, cultura e gastronomia. Além disso, é um projeto que os municípios acreditam”, ressalta Amaral.
Dos 300km previstos, o Governo de Goiás pretende inaugurar ao menos dois trajetos, que somam 50km, até o fim de 2020, mesmo sem saber se haverá empresa interessada em assumir o serviço.

Transformação

Pires do Rio transformou a sua estação em um Museu Ferroviário. Em Ipameri, a estação funciona como centro cultural, biblioteca e Arquivo Histórico da cidade. Silvânia também restaurou a antiga estação ferroviária e prepara hotéis fazenda e um Centro de Atendimento ao Turista (CAT), sonhando com o trem turístico.

Mudanças

Ipameri inaugura a sua primeira estação ferroviária em 1913. Ela trouxe o desenvolvimento local, com as primeiras fábricas, a energia elétrica, agências bancárias, entre outros. Diante das modificações das linhas na região, a estação foi fechada e, em 1976, construída outra, que levou o trem para fora da cidade.

Para saber mais

Brasil tem 28 roteiros
O turismo ferroviário brasileiro tem 28 roteiros de trens de passageiros, entre os que oferecem viagens regulares e passeios. São oferecidas viagens das mais variadas formas. Há Trem do Forró (do Recife a Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco), Trem do Vinho (entre Bento Gonçalves e Garibaldi, no Rio Grande do Sul), Trem das Águas (de São Lourenço a Soledade, em Minas Gerais), trem que liga cidades históricas e os mais modernos, de longo curso, como os que ligam Belo Horizonte (MG) a Vitória (ES), com 664km de distância; e Carajás (PA) a São Luís (MA), que transporta cerca de 300 mil passageiros por ano ao longo de 892km de trilhos.
Fonte: Correio Brazilense
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Alan Ribeiro
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