Com 1,91m de altura, voz tonitruante e olhar que se fixa no interlocutor, verdade seja dita, a figura de Ronaldo Caiado tem algo de intimidador. Talvez por isso seja tão surpreendente quando ele abre um largo sorriso e conta piadas e histórias bem-humoradas, revelando a insuspeita capacidade de rir até de si mesmo. Coisa de campanha? A esposa Maria das Graças Caiado, conhecida como Gracinha, garante que não. “Ele não é bravo como parece. Ele é corajoso”, elogia. “Eu sou firme”, emenda o senador, com o tom assertivo que aliados e adversários conhecem tão bem.

A fama de esquentado, alimentada por embates públicos de grande repercussão, choca-se com histórias de uma trajetória que começa com o medo de uma grande perda. “Quando eu era criança, minha mãe teve meningite. É uma doença muito grave. Eu e minha irmã saímos de casa enquanto ela se recuperava. Fui morar com meu avô, na cidade de Goiás”. E o avô era ninguém menos que Antônio Ramos Caiado, conhecido como Totó Caiado, um dos mais poderosos líderes políticos da Primeira República no Estado. O gosto pela política seria devidamente repassado ao neto.

Com tios e primos ocupando cargos públicos, Caiado participou de várias campanhas e adorava oratória. “Sempre gostei de discursos”, confessa. Mas o momento de ser protagonista em um palanque ainda teria de esperar. “A vontade de ser médico surgiu em mim muito cedo. Eu não podia ver uma pessoa, um bicho machucado que queria ir ali suturar, remendar.” Para isso, foi estudar em Belo Horizonte, em um prestigiado colégio preparatório para a futura carreira. Chegou a passar uma breve temporada em São Paulo – “mas não aguentei a solidão” – e rumou para o Rio de Janeiro.

Era um goiano na Cidade Maravilhosa. “Eu fiz questão de conservar esse meu sotaque, essa goianidade que é muito forte em mim. E sofria bullying por isso. Mas daí eu pensava: deixa estar, daqui a pouco eu vou dar aula para esses cariocas”. Objetivo traçado, objetivo alcançado. Logo se destacou pelo número de cirurgias que realizava. Foi nessa época que aconteceu algo que definiria seu destino profissional. No pronto-socorro do Hospital Miguel Couto, no Rio, conversando com um rapaz que acabara de ficar tetraplégico após se acidentar nas ondas cariocas, ele foi desafiado.

“Era um domingo de manhã e o rapaz nem era meu paciente. Passei fazendo as visitas do plantão. Perguntei a ele: ‘como você está?’. E ele me respondeu: ‘É só isso o que o senhor tem pra me dizer, doutor? O senhor, como médico, não tem nada para me propor nessa situação?’ Aquilo me marcou demais e dali em diante eu coloquei na minha cabeça que me especializaria em cirurgias de coluna vertebral.” E assim foi. Caiado buscou na França, no prestigiado hospital Pitiè-Salpêtrière, em Paris, o conhecimento sobre o assunto e trouxe de lá uma técnica inovadora.

“Eu e Edmond Barras (hoje chefe do serviço de traumatologia da Beneficência Portuguesa, em São Paulo) fomos os primeiros a fazer um tipo de cirurgia de descompressão da medula e fixação da coluna, que, quando realizada em até 6 horas após o trauma, possibilita que o paciente fique em outras posições, não o condenando a ficar na tração, recuperando movimentos.” Caiado fala com orgulho do que chama de “trabalho artesanal da medicina”, em que passa até 6 horas envolvido em um procedimento delicado. “Ali, eu saio do mundo. Fico totalmente concentrado.”

Terapia para o paciente e para o médico, que precisou deixar um pouco os hospitais para se dedicar à sua outra paixão. Em 1989, tornou-se candidato à Presidência da República depois de se firmar como líder da União Democrática Ruralista (UDR). Em 1994, disputou pela primeira vez o governo do Estado e foi derrotado por Maguito Vilela. Vieram as decepções e as dívidas. “Ali eu pensei em desistir. Tive uma conversa franca com meu pai sobre isso. Ele me ouviu e disse que enquanto ele estivesse vivo, eu continuaria na política. Se tivesse saído, teria sido uma frustração definitiva.”

O homem que amava os cachorros

<CW-20>Balu, um golden retriever, e Nikki, uma pequena e atenta cavalier, já estão na porta do amplo apartamento duplex no Setor Oeste quando o dono chega. “Tem vezes que tenho de sair escondido de casa para eles não ficarem muito tristes.” Sim, é Ronaldo Caiado quem fala, longe da arena pública onde muitas vezes entra em discussões acirradas. “Eu amo cachorros. Meu primeiro cachorro era um fox paulistinha chamado Jipe. Depois tive o Leão. Hoje, tenho 41 cachorros.” Oi? Quantos? “Sim, 41 cachorros. E adoro ficar lá no meio deles.”

O amor por animais não se resume aos cães. Caiado fala com orgulho de sua tropa de mulas – uma delas andou lhe pregando uma peça, causando-lhe uma queda feia que lhe levou para a mesa de cirurgia por conta do ombro fraturado. Nem isso o fez perder o gosto pelos moares. Ele também cria gado registrado em sua propriedade de Americano do Brasil e gado de corte em outra fazenda. Lidar com as criações é um de seus prazeres. “Quando estou muito cansado, quando acaba uma campanha, por exemplo, vou para lá. É a melhor coisa do mundo.” Andar o dia inteiro a cavalo para averiguar pastos, lavouras e rebanhos é uma de suas atividades prediletas.

A fazenda a cerca de 100 quilômetros de Goiânia é um local onde a família gosta de se reunir. “Minhas filhas gostam de lá, levar amigos. Quando vejo, tem 50 pessoas”, relata Caiado, pai de três mulheres e um rapaz. A esposa Gracinha acha ótimo. “Sou animada, me integro mais.” O senador, porém, está sempre por perto. E com ciúmes. “Ah, meu Deus, a gente sabe que elas vão namorar, mas é complicado…” Já houve pretendentes que desistiram ao descobrir quem é o futuro sogro? A pergunta é respondida com um sorriso.

Legenda da foto de capa: Ronaldo Caiado e a esposa Gracinha com Balu e Nikki na área social de seu apartamento no Setor Oeste: “Eu amo cachorros. Hoje, tenho 41” (Foto: André Costa)

Fonte: O Popular – Rogério Borges