Prefeito diz que mulher ligada a pastor com influência no MEC ofereceu ajuda com verbas em troca de votos

Em mensagem apresentada pelo prefeito, mulher diz ter acesso a orçamentos de dois ministérios. ‘Queremos em troca uns votos para nosso deputado estadual da igreja. Interessa?’, diz o texto.

Por Delis Ortiz e Marcelo Parreira, TV Globo

O prefeito, que pediu para não ser identificado, relatou ter recebido de uma mulher ligada ao pastor Arilton Moura uma oferta de contrato de “assessoria” para ajudar na liberação de recursos do Ministério da Educação. Nely Carneiro, segundo o prefeito, também propôs, mais tarde, acesso ao orçamento de dois ministérios em troca de apoio eleitoral.

A primeira proposta, de prestar um serviço de “assessoria”, foi feita, de acordo com o prefeito, em uma reunião no Ministério da Educação. Nely não aparece no quadro de servidores do MEC. Ela já foi assessora do MDB na Câmara (veja perfil mais abaixo).

Arilton é um dos pastores que, nesta semana, foram citados em áudio do ministro da Educação, Milton Ribeiro. Na gravação, Ribeiro diz que, a pedido do presidente Jair Bolsonaro, privilegia repasse de verbas do MEC a municípios indicados por Arilton e pelo pastor Gilmar Santos.

Na esteira da gravação, divulgada inicialmente pelo jornal “Folha de S. Paulo”, começaram a surgir denúncias de prefeitos que relatam ter recebido pedido de propina dos pastores em troca dos repasses do MEC.

Ribeiro e os pastores têm negado quaisquer irregularidades.

Reunião no MEC

O prefeito que não quer se identificar tem medo de represálias. Ele relatou à TV Globo ter participado de uma reunião do ministro com representantes de municípios em 11 de março de 2021.

Segundo a agenda oficial do ministério, prefeitos, secretários e assessores de pelo menos 22 cidades, a maioria de Goiás, participaram da reunião.

Também constam entre os presentes os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, além de assessores do MEC e representantes do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

À TV Globo, o prefeito revelou que foi convidado para a reunião em uma ligação feita de um telefone do ministério por uma mulher ligada aos pastores chamada Nely.

Nely é a mesma mulher que o procurou durante a reunião para, segundo ele, propor um contrato para operar como facilitadora da liberação de verbas.

Ele diz que proposta semelhante foi feita a outros presentes, e que Nely possuía um apanhado de demandas pontuais dos convidados da reunião, já feitas anteriormente.

O prefeito afirmou que recusou a proposta, mas a mulher manteve contato nos meses seguintes, enviando exemplos de portarias de liberações de recursos pelo MEC e pelo Ministério da Saúde.

Procurada pela reportagem, Nely negou relação com a denúncia, sem entrar em detalhes.

Mensagens

Em mensagem enviada a ele a que a TV Globo teve acesso, a pessoa identificada como Nely diz que tem acesso ao Orçamento do Ministério da Educação e do Ministério da Saúde.

“Estamos com orçamento do MEC e Saúde”, escreveu a mulher.

“Queremos em troca uns votos para nosso deputado estadual da igreja. Interessa?”, continuou Nely.

O prefeito responde que sim e pergunta quem seria o candidato. Nely então diz que “é novo” e sugere a ele que entre em contato com o pastor Arilton.

O prefeito conta que não fez o contato e, pouco tempo depois, as mensagens foram interrompidas.

Outros prefeitos

A TV Globo falou com outros prefeitos que participaram da reunião. Um deles confirmou ter sido convidado para a reunião por um dos pastores, mas negou ter tido contato com Nely. Já um vereador presente à reunião relatou ter visto a mulher circulando no local.

Um dos outros prefeitos presentes na reunião foi Kelton Pinheiro (Cidadania), de Bonfinópolis (GO). À TV Globo, ele relatou ter recebido um pedido de pagamento diretamente de Arilton Moura em um almoço após o encontro.

“Lá nesse restaurante, terminada a refeição, ele sentou do lado da mesa e disse: ‘Olha, nós temos recursos, nós podemos capitanear recursos para o seu município, para construção. O que você está precisando na sua cidade?'”, relata Kelton, que informou precisar de recursos para construção de uma escola na cidade.

O prefeito conta que, diante de sua resposta, o pastor fez o pedido de propina.

“Então ele disse: ‘Olha, tudo bem, eu consigo isso para você, mas eu quero que você me dê hoje R$ 15 mil aqui na minha mão, hoje, uma transferência, que você faça isso hoje'”.

Kelton disse que recusou a oferta.

Ex-assessora do MDB da Câmara

Nely Carneiro da Veiga Jardim aparece na agenda oficial do encontro de março do ano passado como “assessora”.

A época da reunião com os prefeitos, Nely ocupava um cargo comissionado na liderança do MDB da Câmara dos Deputados, mas foi exonerada da função pouco tempo depois, em abril de 2021.

Mas antes disso, em pelo menos duas outras agendas de Milton Ribeiro, ela foi registrada como representante da Igreja Cristo para Todos.

Nas duas audiências, em 17 e 23 de dezembro de 2020, também estavam presentes os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos. Nas duas datas, a pauta foi “visita de cortesia”.

Investigações

Com a repercussão das denúncias no MEC, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu autorização ao Supremo Tribunal Federal (STF) para instaurar um inquérito sobre a suspeita de que Ribeiro tenha favorecido pedidos de pastores na concessão de verbas públicas.

Segundo material divulgado pela PGR, se autorizado, o inquérito vai apurar “se pessoas sem vínculo com o Ministério da Educação atuavam para a liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), vinculado à pasta”.

Fonte G1 e Jornal Nacional TV Globo

Confira a matéria no YouTube:

https://youtu.be/PF28Ifhp_9w

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Alan Ribeiro
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