Um olhar sobre a dor dos outros

Essa é uma pergunta que me inquieta: como olhar, escrever, falar sobre a dor dos outros? Como se aproximar da tortura dos outros?

As perguntas são intertextos às obras de Susan Sontag sobre a fotografia.

Se não olho, se silencio, sou conivente. Sim, meu silêncio é uma forma de conivência às opressões. O silêncio não nos salvará, já versaram muitas feministas antes de nós, como Audre Lorde. É uma forma de desresponsabilização à tragédia dos outros.

A pergunta sobre falar da dor dos outros se desdobra em muitas: como, quando, com quem, quando é hora de escutar e aprender. Quero explorar só um pedacinho desse amalgamado de perguntas éticas e existenciais sobre a sobrevivência à tragédia das outras.

Quem somos nós nesse encontro? Audiência de um espetáculo ou testemunhas com deveres éticos de ação? Eu sempre acreditei exercitar-me para o segundo: quero usar a palavra, a imagem, minha voz e tempo da vida para ser uma testemunha engajada.

Que faço agora, neste instante, que o Haiti me convoca com as imagens quase sem circulação após o terremoto? Que faço com as imagens abundantes do povo em fuga no Afeganistão?

Sobre o Haiti, país onde trabalho com grupos de mulheres, escuto suas histórias para ser uma voz aliada. Aprendi sobre o vivido para ser uma testemunha qualificada. Do Afeganistão, que pouco sei, esforço-me por aprender o que a islamofobia que me ronda e o militarismo que me confunde me fizeram distantes: uso meu tempo para conhecer, estranhar-me na incuriosidade, uso meu espaço de palavra para repetir o pouco que aprendo no instante da urgência.

Não silencio. Não viro a página. Não banalizo.

Entre uma dor e outra, uma coisa não me confundo: a dor desses povos é deles. Afetar-me pelo sofrimento alheio não é confundir-me: a dor é da outra, ela não se transfere para mim. O meu imobilismo ou angústia pelo que vejo não me salvará, não salvará nenhuma outra pessoa em sofrimento.

Assim, o que fazer? Escrever se esse for seu jeito; doar a organizações humanitárias, se você tem recursos; estudar com outros para formar grupos de aprendizado. O que nunca deve fazer é deixar-se ser cínico à tragédia dos outros.

Débora Diniz

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Alan Ribeiro
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