Meu pai dizia que, enquanto o presunto está pendurado na porta, sua casa está sempre cheia. O problema é quando o presunto acaba e não é reposto. Neste momento, as pessoas somem. Não sobra nem o cachorro vira-lata que se alimentava dos restos.

A gente vai vivendo e vai descobrindo que é mais ou menos assim. Na hora de aproveitar, na bonança, enquanto você paga a festa, tem gente de tudo que é jeito fazendo os maiores elogios, puxando o saco, cantando virtudes que você sabe que não tem.

A mesma regra vale para quem ocupa cargos importantes. Tanto faz onde e como. Se tem o poder, está cercado de pessoas de todos os tipos, tentando tirar uma lasquinha, seja lá para o que for, desde que leve uma vantagem. Não precisa ser econômica. Um cargo, uma posição no currículo. A possibilidade de escrever nas redes sociais que esteve com o poderoso, enfim, todas as razões e mais algumas são suficientes para justificar, todos os argumentos são válidos, desde que o papagaio de pirata surja bem na foto.

No primeiro vento, tudo muda. O amigo que morreria por você desaparece, não atende o telefone, viaja para o Butão, vira colecionar de papoulas da Mesopotâmia, etc.

É o céu ficar cinza lá longe no horizonte e as deserções começam. Não sobra ninguém. Não são os ratos que são os primeiros a desembarcar. São os seres humanos. Os ratos ficam mais porque tentam aproveitar até o último momento.

Os seres humanos têm mais medo. É sentir cheiro de que pode não ser a festa que ele queria, um belo dia o presunto ser nacional e a debandada começa. Nada de novo debaixo do sol. É ler a Bíblia para se ter certeza que, na média, o próximo não está tão próximo, nem as amizades são tão sólidas. Próximo do próximo, em média, só o próprio umbigo.