Solenidade não foi de comemoração, mas para mostrar como superação de dificuldades dependerá da seriedade
Welliton Carlos
Há cem dias o governador Ronaldo Caiado (DEM) assumia uma verdadeira armadilha: um governo com uma dívida estimada em R$ 25 bilhões junto ao Tesouro Nacional. Não bastasse, acumulou dívida de curto prazo que ultrapassa R$ 4,07 bilhões. Bote neste caldeirão um mês de salários atrasados: R$ 1,7 bilhão. E dívidas e mais dívidas com Organizações Sociais (OS) que cuidam dos hospitais.
Jamais um governante goiano pegou um Estado em frangalhos como agora. Coloque na lista a perda da principal empresa dos goianos, a Celg, além de atrasos com universidades que prestam serviço de bolsa universitária, passe livre estudantil e hospitais em processo de intervenção.
Ontem, o governador fez o balanço dos 100 dias de gestão. Até mesmo adversários políticos reconheceram o desafio: não seria fácil manter Goiás em funcionamento. O colapso seria questão de tempo.
Apesar da indignação, em coletiva de imprensa, Caiado manteve a esperança de que nos próximos meses a situação vai melhorar. Realizou um panorama das conquistas: “(…) ações que tivemos na saúde, a orientação para o atendimento regional; vamos avançar em inovação e tecnologia, por exemplo, teremos em setembro o Campus Party em Goiânia. Novas empresas estão chegando… São avanços na segurança pública, na saúde, sem nenhum real de empréstimos”.
Durante coletiva no auditório Mauro Borges, o gestor explicou que aguarda ainda o apoio do Governo Federal, considerado aliado. A expectativa é grande: Caiado é um dos conselheiros de primeira hora do presidente e aguarda o chamado que socorrerá estados inadimplentes.
ECONOMIA
Como gestor, todavia, a maior vitória do governador ocorreu antes da posse: em dezembro, Caiado conseguiu realizar a economia de R$ 1 bilhão após renegociar os incentivos fiscais junto à Associação Pro-desenvolvimento Industrial de Goiás (Adial). Os recursos começam agora a entrar no caixa do Estado e devem ser usados para pagar dívidas.
No governo, em seu terceiro mês, resgatou um compromisso de campanha: o fim da terceira classe da Polícia Militar do Estado de Goiás (PM-GO). A entidade convivia com um absurdo salário de R$ 1500 para os novatos.
O gestor também conseguiu economizar 20% nos gastos públicos gerais, principalmente com a redução de servidores comissionados e ações simples como apagar as luzes do palácio assim que termina o expediente – após as 18h, apenas parte do Palácio Pedro Ludovico permanece em funcionamento, para atender a quem realmente permaneça em serviço.
COMPLIANCE
Ao lado das ações de austeridade, implantou o prometido “Compliance”: o Governo de Goiás garante reduções de R$ 30 milhões em contratos irregulares e identificou R$ 670 milhões em convênios pendentes.
Em termos de política social, já deu o parecer de como será sua gestão: Caiado criou o Gabinete de Políticas Sociais do governo e instituiu o “Índice multidimensional de carência”, metodologia para analisar as condições da casa onde as pessoas vivem, escolaridade de pais e filhos e também o quanto ganham por mês.
A partir destes estudos, o governante pretende realizar uma política social eficaz e menos vitrine de propaganda. Caiado quer chegar nestes lares. O tema tornou-se reportagem no jornal “Estadão”, no último domingo, e mostrou o gestor goiano como um dos potenciais herdeiros da política social dos governos petistas, já que tem procurado identificar os miseráveis nos rincões.
Na política nacional, Caiado tornou-se o principal articulador com o ministro Paulo Guedes, que se sensibilizou através de seu relato sincero sobre as contas de Goiás.
SEM FESTA
“Hoje não é dia de festa, é dia de compromisso. Chegamos a essa data bem e de cabeça erguida. Pegamos o estado com uma crise financeira e falência dos serviços públicos”, disse Caiado ontem.
Para a imprensa, explicou seu drama: “Em 12 meses, pagarei 14 salários e meio, metade de novembro e dezembro, mais 12 meses do ano e o décimo terceiro”.
Alguns dos cem dias de Caiado
Governador assumiu papel mais difícil, o de gestor de crises, tendo que lidar com atrasos de pagamento de servidores, impossibilidade de contrair empréstimos e caos nas rodovias
Primeiro dia: Economia de R$ 1 bilhão
Caiado assume com economia de R$ 1 bilhão. Durante reunião com a Adial ele reduziu os benefícios fiscais concedidos para os grandes empresários.
Segundo dia: Ação para impedir fechamento do Materno Infantil
Com fechamento anunciado, o Hospital Materno Infantil (HMI) recebeu a visita de Caiado em seu segundo dia de mandato. Com novos acordos, os servidores e profissionais conseguiram manter a unidade em funcionamento. Dois meses depois, a unidade protagonizará a morte de uma criança supostamente por falta de instalação adequada.
Sétimo dia: Peregrinação em Brasília
Ronaldo Caiado é o governador brasileiro que mais procurou Brasília em busca de soluções para os problemas do Estado. Tenta negociação com ministros e presidente Bolsonaro, além do Tesouro Nacional, em busca de solução para a dívida pública de Goiás. Ao todo fez 14 visitas de gestão.
Décimo oitavo dia: Negocia com servidores como pagar mês deixado em atraso
Caiado enfrenta seu primeiro desgaste: abre os cofres do governo e mostra que não tem recursos em conta. Começa a pagar o mês de dezembro de forma fracionada. É criticado por isso.
Trigésimo nono dia: Redução das dívidas com servidores
Em 9 de fevereiro o governador pagou 6.376 servidores. Na semana anterior, 16.449 servidores também receberam do Estado.
Septuagésimo dia: Fim da terceira classe
Caiado cumpre a promessa de campanha mais difícil: acabar com os salários de R$ 1500 para policiais. Gestor põe fim à terceira classe.
Septuagésimo segundo dia: Chamamento do Exército em situação de urgência na GO-060
Diante do caos instalado na GO-060, que teve trecho interditado depois do rompimento de um bueiro, Caiado convoca o Exército brasileiro para construir ponte.
Septuagésimo terceiro dia: Redução de 44% da dívida herdada pelas gestões anteriores
Caiado conseguiu reduzir em 44% a dívida imediata deixada pela gestão anterior, de aproximadamente R$ 3,4 bilhões. Cerca de R$ 1,5 bi já foram pagos. Cerca de R$ 831 milhões destinados para despesas com pessoal.
Octogésimo segundo dia: Máquinas para prefeituras
Caiado entrega maquinários para dezenas de prefeituras, inaugura reformas em cidades; assina tratativa de instalação de usina de energia solar em São João d´Aliança.
Octogésimo quarto dia: Leilão de carros de luxo
Governador inicia campanha de moralidade através da venda simbólica de carros de luxo. Valor arrecadado é destinado para Materno Infantil. R$ 365 mil foram conseguidos com a venda.
Octogésimo nono dia: Entrega de equipamentos
Ronaldo Caiado entrega 50 viaturas à Patrulha Rural Georreferenciada. Ao lado de parlamentares, por meio de emendas, o gestor também entregou equipamentos para vários municípios goianos.
Nonagésimo dia: Campeão de geração de empregos
Goiás torna-se o maior gerador de empregos do Centro-Oeste em fevereiro, segundo o Caged, órgão federal. Estado gerou 5.997 novos empregos com carteira assinada em fevereiro de 2019. É o sétimo do país na geração de empregos.
Nonagésimo dia: Contato com multinacional de tecnologia
Chineses da multinacional BYD visitam Goiás para discutir instalação de empresa em Goiás. Encontro ocorre dez dias após o governador, ao lado do secretário Wilder Morais, se reunir com os empresários em uma feira internacional realizada em São Paulo.
Nonagésimo segundo dia: Segurança pública
Caiado comemora índices positivos de alguns dos principais parâmetros de criminalidade. Ocorreu maior apreensão de drogas (aumento de 68%), queda de homicídios (11%), queda de roubos de transeuntes e comércio (58% e 54%), dentre outros.
Nonagésimo quinto dia: Guaraná Mineiro anuncia construção de fábrica em Goiás
Popular empresa de refrigerantes anuncia investimentos de R$ 30 milhões. É a primeira grande empresa a anunciar instalação após a gestão Caiado.
Nonagésimo nono dia: Moralidade
Anuncia vistoria em R$ 30 milhões em contratos irregulares, além da análise de R$ 670 milhões em convênios pendentes. Presta contas da política de “compliance” em execução
Centésimo dia: Impessoalidade
Ordena que a foto do governador não seja distribuída para repartições. Ação tem conteúdo moralizante em respeito ao princípio constitucional da impessoalidade (em que o gestor não deve fazer propaganda dele mesmo) e de economia de gasto público. No começo da semana passada causou estranheza nas redes sociais a imagem com um quadro do ex-governador de Goiás jogado fora no lixo, o que fere o princípio da economicidade do Estado.
Opinião do blog: foram 100 dias de luta aguerrida na busca de um objetivo: construir um estado de Goiás melhor para cada cidadão que mora em seus municípios, conheço Ronaldo Caiado desde a época da UDR e sei que como homem persistente irá ser incansável para alcançar sua meta.